segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Julgava-me muito rico por ter uma flor única no mundo e, afinal, só tenho uma rosa vulgar...
Foi então que apareceu uma raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - Respondeu delicadamente o princepezinho.
- Anda brincar comigo - pediu o princepezinho. Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
  Andas à procura de galinhas? (diz a raposa)
Não... Ando à procura de amigos. O que é que "cativar" quer dizer?
... Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
Laços?
Sim, laços - disse a raposa. - ...
Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo e eu serei para ti, única no mundo...
(raposa) Tenho uma vida terrivelmente monótona...
Mas se tu me cativares, a minha vida fica cheia de Sol.
Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? ... não me fazem lembrar de nada. É uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então quando eu estiver cativada por ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti...
- Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
E o que é preciso fazer? - Perguntou o princepezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada . A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar mais perto...
Se vieres sempre às quatro horas, às três já eu começo a ser feliz...
Foi assim que o princepezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - Ai que me vou pôr a chorar...
... Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
Depois acrescentou:
- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo.
O princepezinho lá foi... - vocês não são nada, disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês... - não se pode morrer por vocês...
.. A minha rosa sozinha. vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a ela que eu reguei, que eu abriguei... Porque foi a ela que eu ouvi queixar-se, gabar-se e até, às vezes calar-se. Porque ela é a minha rosa.
E então voltou para ao pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. - vou-te contar o tal segredo. É muito simples:
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela.
Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa..."

in O Principezinho, de Antoine Saint-Exupery

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ser mulher





Desde a primeira vez que vi este anúncio, gostei dele. Mais do que isso, fez saltar de mim o melhor de ser mulher: o romantismo, a capacidade de sonhar e a oportunidade única que uma mulher tem de fazer alguém sentir-se especial. Nasci numa família de muitas mulheres e posso dizer que têm sido elas a inspirar-me dia a dia. Com elas tenho passado dos melhores momentos da minha vida e aprendido muito. É impressionante o poder dos genes e, no nosso caso, olhando para elas consigo sentir que temos a génese da nossa existência em tudo semelhante. Pelo menos acreditamos nos mesmos ideais e movemo-nos em função de valores de aproximação e criação de laços. Devo à minha Mãe, primeira mulher da minha vida, o fascínio que tenho por todas elas. Carinhosa ao limite, forte nas adversidades, justa e protectora, um dia, em pequenina, disse-lhe "Um dia quero ser como tu".


E quero mesmo! Um dia... todos os dias.

(Banda sonora: Billy Joel, She's always a woman)

domingo, 17 de outubro de 2010

O deserto.

Isto pode não fazer sentido nenhum para muita gente mas eu sempre tive um quê de espiritual, por isso - vá lá, não é bem superstição - eu prefiro não chamar a estas coisas meras coincidências. E às vezes, como aconteceu agora, pego em livros e abro-os ao acaso.

"Tudo o que se diz de desnecessário é estúpido, é um sinal destes tempos estúpidos em que falamos mais do que entendemos. No deserto, não há muito a dizer: o olhar chega e impõe o silêncio. Mas, naqueles dias, eu estava sempre com pressa. (...) Um dia, porém, depois de mais uma paragem para colher imagens, ao regressar ao jipe vi que tinhas ficado ao lado da pista, a olhar em frente, como se tivesses desligado de tudo. Ia gritar-te, buzinar-te, quando qualquer coisa na maneira como tu estavas em pé a olhar o deserto, qualquer coisa na maneira como tinhas as mãos enfiadas nos bolsos, a cabeça ligeiramente inclinada de lado, o cabelo varrido pelo vento, me fez ficar quieto ao volante. E fiquei assim a observar-te até que tu te virasses e visses que estava à tua espera. Aprendi que é preciso dar tempo aos outros para olharem. Se não fosse para isso, porque teríamos nós vindo ao deserto?"

("No teu deserto", de Miguel Sousa Tavares)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Chamem-lhe o que quiserem, mas as leis da vida deixam-me impotente. Ontem senti de novo um pé no abismo... custa ver partir alguém que nos tratou bem um dia. Há pessoas assim: com quem basta passarmos uma semana para percebermos que são especiais. Era o caso. O Christian era um homem bom, de coração aberto e muito generoso. Quando estive na casa dele recebeu-me de uma forma familiar, levou-nos a passear e mostrou-nos a cidade. Numa língua diferente, num país diferente, fez-nos sentir como em casa. Deixo uma foto que ele me enviou um dia, num dos vários e-mails que trocámos. Uma foto de uma rosa vermelha, tirada com a objectiva da máquina fotográfica que havia recebido no Dia do Pai. Um pai amoroso, de certeza. Deixa saudades. Muitas. Há poucas pessoas boas. Porque é que aqueles de quem gostamos partem tão cedo? É sempre tão cedo...


Descanse em paz. Até um dia destes :)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

É isso.




Não acredito em histórias perfeitas. Não acredito em pessoas perfeitas, nem em nada que seja constante e perpétuo. Não acredito em pessoas volúveis e instáveis. Não acredito (nem gosto) de respostas definitivas. Apesar de desconfiar da certeza, prefiro-a. Não gosto de jogadas, de pessoas que confundem o delírio da posse com o que habita dentro do outro. Já o disse, mas irrita-me o egoísmo, a falta de dois olhos atentos a uma outra realidade. Irrita-me a forma como hoje as pessoas se encaram como produtos, como se fossem verdadeiros object(iv)os. E o pior é que quase sempre têm prazo de validade para serem consumidas. Não vejo em todos um qualquer, mas sei que há muita gente banal, sem nada para acrescentar à humanidade. Mesmo assim, acredito no porquê de aqui estarmos todos, embora desconheça esse motivo. É normal, sou pequena demais para compreender o mundo, e há coisas que prefiro nem saber. Não gosto de optar pelo facilitismo, prefiro um mundo de riscos se para isso for necessário correr atrás de um sonho. Os sonhos... ainda acredito neles. Sei que tudo pode tornar-se real se acreditarmos muito. Não gosto de pessoas que confundem pessimismo com racionalidade. Pode-se ver o mundo tal como ele é sem ser pessimista. Em tudo na vida, há um lado bom e um lado mau. Trata-se de uma questão de perspectiva. A forma como resolves olhar para a tua vida pode ir muito além do que vês e tocas. Essa é outra coisa de que não gosto... instintos básicos, falta de valores, pessoas pé no chão, (pseudo) donos da verdade.
Não acredito num só caminho para cada pessoa, mas acredito que há sempre um que é mais abençoado. Acho que há aquele momento em que todos nos questionamos: vou em frente? Pois é, quem não tem medo que levante o braço. Mas uma coisa é assumirmo-los e fintá-los, outra é ficarmos refém deles. Para mim, é sinal puro de fraqueza. Não acredito em passos divergentes quando duas pessoas se querem encontrar. Posso ainda não saber o que quero, mas sei bem o que não quero para mim. Gosto de sinceridade, dêem-me a verdade mesmo que me destrua. Acredito no começo, no meio e desejo a ausência de fim. É possível que não haja fim. Dentro de nós tudo funciona debaixo da nossa lógica e das nossas crenças. Ainda ontem quando cheguei a casa fui ao quarto só para ouvir a minha mãe respirar. É assim com as coisas verdadeiramente importantes: elas nunca têm fim, moram tão longe e tão fundo que nunca lhes encontramos o rasto. Acredito que as palavras têm sabor e que nos fazem sentir um turbilhão de coisas. Mesmo assim, prefiro acções, mostram muito mais daquilo que somos e do quanto somos capazes. Não acredito em farsas, mas às vezes engano-me. Da próxima tenho mais cuidado.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Esta coisa de gostar...

Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: "Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele".
Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?
Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é díficil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem " ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho", nem " ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada" nem " ai que não vi a tua chamada não atendida".
Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campaínha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam – vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós.

(Fernando Alvim)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

(something brings me back. to you)


Ela garantiu-me. Naquele dia, embora parecesse estranho, o cheiro dele estava a fazer-lhe companhia. Desde o primeiro acorde da manhã, de repente cheirava-o, nas brisas que vinham ao seu encontro, sem que ela pensasse, ou quisesse sequer. Era como se ele estivesse colado ao corpo dela e o próprio odor dela já fosse o dele. Uma confusão, eu sei... mas tive a certeza de que falava verdade. Aqueles olhos de mel, límpidos e brilhantes, não estavam a mentir. Será que naquele dia em especial ele queria dizer-lhe alguma coisa? Era estranho aquele cheiro. Perseguia-a, e estava já a assustá-la. Para quem é céptico esta conversa não faz qualquer sentido, mas era surreal e parecia que podia ser algo mais do que aparentemente parecia. Um cheiro banal, porém o dele. Teria algum significado?
Ela não negou. Era bom, o cheiro era maravilhoso (como não haveria de ser?) E não era de perfume. Estou a falar de essência, é uma questão de pele. Pele com pele. Puramente só isso.
Por muito que ali estivesse presente o cheiro dele, ela estava disposta a esquecê-lo. Porque, como disse, aquele coração agitado e distraído pouco sabia do que o dela, romântico e inseguro, precisava.
E é verdade: quando não sabemos o que o outro quer (e pior, nem queremos sequer dar-nos a esse trabalho), há sempre tanto que fica por dar... tanto, tanto...
Espero que sejas feliz. Tu mereces um coração como os teus olhos. De mel.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Para ti, mano.



The stars lean down to kiss you,
And I lie awake I miss you,
Pour me a heavy dose of atmosphere.
Cause I'll doze off safe and soundly,
But I'll miss your arms around me
I'd send a postcard to you dear,
Cause I wish you were here.

I'll watch the night turn light blue,
But it's not the same without you,
Because it takes two to whisper quietly,
The silence isn't so bad,
Till I look at my hands and feel sad,
Cause the spaces between my fingers
Are right where yours fit perfectly.

I'll find repose in new ways,
Though I haven't slept in two days,
Cause cold nostalgia chills me 'till the bone.
But drenched in Vanilla twilight,
I'll sit on the front porch all night,
Waist deep in thought because when I think of you.
I don't feel so alone.
I don't feel so alone.
I don't feel so alone.

As many times as I blink I'll think of you... tonight.
I'll think of you tonight.

When violet eyes get brighter,
And heavy wings grow lighter,
I'll taste the sky and feel alive again.
And I'll forget the world that I knew,
But I swear I won't forget you,
Oh if my voice could reach back through the past,
I'd whisper in your ear,
Oh darling I wish you were here.
 
 
(Cada palavra é tua. Cada momento é teu. Cada sorriso e cada pedaço da minha história. Sinto a tua falta, Tiago. Sinto tanto a tua falta. Todos os dias da minha vida...)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Morre lentamente quem...

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere o "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa
Quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias
Queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço
Muito maior do que o simples acto de respirar.

Estejamos vivos, então!"


(Pablo Neruda)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

David Luiz



Gostei muito de ouvi-lo. E de vê-lo. Especialmente por perceber que ali está um grande homem. Perdão. Um grande Homem.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Aí mora alguém.

"Conhecer aqui e ali alguém que pensa e sente como nós, e que embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado."


Deve andar por aí perdida a minha alma gémea.
Conhecer alguém como nós, ao nosso jeito, que pensa e sente como nós, é uma dádiva dos deuses. Pelo menos, eu entendo-a como tal. Porque é especial perfurar a alma de alguém, numa espécie de ligação pura e eterna. Como se fizéssemos parte um do outro. Como se sempre tivéssemos pertencido ao mesmo universo e o destino fosse mais forte do que todas as conspirações cósmicas. (Sim, para mim é...)
Não conheço ninguém igual a mim - é natural, afinal todos somos únicos e diferentes - mas quando estou na presença de alguém que me entende, que entra dentro do meu olhar e vê o estado do meu coração, esse alguém que passa a ver o mundo com os meus olhos faz-me sentir prestes a alcançar a plenitude. Um autêntico estado de graça é o que experimento, e aí fecho-me dentro de uma bolha mágica e perfeita, onde só existo eu, tu e nós. És assim: fazes-me sentir viva. O coração ganha forma e expressão, canta cá dentro palavras doces e cheias de sentido. Mostra-me que existe, e que existes dentro dele.
Numa sociedade tão plural, com pessoas cada vez mais excêntricas (ou a querer demonstrar sê-lo) nem sempre é fácil viver. Primeiro, há que aceitar a diferença, admitir a sua relevância e perceber que por vezes não estar debaixo de controlo é a coisa mais bonita do mundo. Ser livre é uma forma de respirar para alguns. Para outros, uma forma de cometer excessos. Respeitar a diferença e aceitá-la é um acto de coragem, de tolerância. Afastar e viver à margem é a escolha mais fácil.
Não é todos os dias. Não, não é todos os dias que se conhece gente assim, metade de nós. E podermos ser aquilo que somos com alguém é aquilo a que eu, pelo menos, aspiro. Porque quando sou eu, quando és tu, qualquer lugar serve, qualquer tempo e modo servem. O sofá de casa é o Tejo à nossa frente. O chocolate quente e o cuppcino da máquina de casa têm um sabor ainda melhor do que os tomados num café perfeitamente decorado, o mais caro da cidade. Aquele canteiro de flores pendurado na janela do quarto, a que dedicas o teu tempo e amor, consegue ser maior e mais bonito do que todos os jardins do mundo. É assim quando somos só nós. Tudo em nós chega. Guarda o dinheiro, as futilidades, os preconceitos e ideias-feitas. E deita-os no lixo. De preferência, na reciclagem. Depois, abre a alma... para outra alma. Que existe e anda por aí à procura da sua metade. Há um lugar dentro de ti a precisar de ser completado.

sábado, 17 de abril de 2010

Abrace a vida



Um dos melhores anúncios que já vi.
Achei comovente a metáfora das imagens com a mensagem transmitida. Com a sinistralidade sempre a subir, nunca é demais alertar: conduzam sempre com cinto de segurança. Afinal de contas é um gesto tão simples... e, ao mesmo tempo, tão seguro, tão eficaz.
A mensagem não podia ser mais feliz: Abrace a vida! Eu acrescento, como se fosse o abraço da sua mulher, filha, mãe ou amiga. Sabe bem, não sabe?

segunda-feira, 12 de abril de 2010


Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira.

(Miguel Esteves Cardoso)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Vale a pena ler... e pensar nisto...

Este é um texto que li e gostei. Por me fazer pensar... e acreditar.
Vale a pena pensar nisto!

Os meus amigos separados não se cansam de me perguntar como consegui ficar casado trinta anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam à minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo. Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem mas, dito isso, a minha resposta é mais ou menos a que segue.
Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém aguenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou no meu terceiro casamento - a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. A minha esposa, se não me engano, está no seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu. O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, acalmar-se e partir de novo com a mesma mulher. O segredo, no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se o seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua de mel, sem os filhos eternamente a guerrear para ter a sua irrestrita atenção? Sem falar nos inúmeros quilos que se acrescentaram a si, depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo? Faça de conta que está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a frequentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria o seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquilhagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge. Vamos ser honestos: ninguém aguenta a mesma mulher ou marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo baton, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é a sua esposa que está a ficar chata e cansada, são os amigos dela (e talvez os seus), são os seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa encanta-se com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos. Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões esfacelam-se porque o casal recusa-se a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas, se você se separar, a sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas, e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior. Não existe essa tal "estabilidade do casamento", nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, o seu marido, a sua esposa, o seu bairro e os seus amigos. A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação estável", mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensando fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, por que não fazer na própria família? É o que os seus filhos fazem desde que vieram ao mundo. Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho a certeza de que os seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso, de vez em quando, é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.

domingo, 7 de março de 2010

Sigo-te




Vaza-me os olhos: continuarei a ver-te,
Tapa-me os ouvidos: continuarei a ouvir-te,
Mesmo sem pés chegarei a ti,
Mesmo sem boca poderei invocar-te.
Decepa-me os braços: poderei abraçar-te
Com o coração como se fosse a mão.
Arranca-me o coração: palpitarás no meu cérebro,
E se me incendiares o cérebro,
levar-te-ei ainda no meu sangue.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O que levas no olhar?

Vinhas a correr. Sem fôlego, a implorar que te abrisse os abraços... não precisaste dizer nada para que conseguisse ler o que sentias. Os olhos assustados, a respiração ofegante, os lábios secos, as sobrancelhas arqueadas antevendo uma expressão grave... E, quando, finalmente, disseste alguma coisa, eu percebi que estavas de rastos, a achar que o mundo tinha acabado ali mesmo à tua frente, e que não tinhas conseguido fazer nada. Esse olhar não era teu. Ou pelo menos não aquele que estava acostumada a ver. Mesmo assim, e embora pareça sarcástico, gostei do que vi. Não pelo que sentias, como é óbvio. Mas pela sensação de poder fazer alguma coisa... nem sempre podemos, não é mesmo? Neste caso podia, para além de ouvir-te, compreender-te e dizer-te que não era assim tão grave. E se há coisa que me sabe bem é acalmar... é ouvir uma história e saber que ela é mais simples do que parece. Podendo ser sincera. E comprovando através da (pouca) sabedoria que uma vida curta, mas intensa, me foi dando. Nunca te esqueças que quando uma coisa acaba, outra começa. E ver de forma negativa não passa apenas de uma perspectiva. Que se escolhe! Dou-te provas. Pensa bem, e reflecte. Imagina-te numa rua movimentada, no caos, no barulho ensurcedor da buzina de carros, nos semáforos a piscar verde-amarelo-vermelho, em pessoas a atravessar a estrada, stress, pressa de chegar. Imagina-te no meio disto tudo. O que achas que sentirias? Pânico, sensação de impotência, depressão, desconsolo. Agora imagina subir ao cima do maior prédio. Está aí mesmo à tua frente, também nessa rua diabólica. O que achas que vais ver? Talvez uma paisagem tranquila, bonita, um imenso mar brilhante a banhar-te os sentidos, sensação de leveza a atingir o infinito. Um quadro brutal, sereno e a gritar esperança.  O que te quero dizer é que a vida (e os seus dramas) pode ser encarada de dois modos: cá em baixo, através do negativismo, ou lá em cima, sendo positivo. Como vês, não precisas sequer de sair do mesmo lugar para que a tua vida mude. Para que te sintas bem - ou pelo menos, melhor - basta o modo como olhas para a realidade e como escolhes viver. E eu dou-te força para que escolhas subir lá acima, com a alma limpa de medos e fantasmas passados. Vai ser mais fácil do que parece. Garanto-te que a tua vida vai mudar, e que tu vais mudar com ela.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A voar.



Como o céu. Imenso e luzidio. Assim quero. Assim espero. Assim componho. De que me servem os pés se tenho asas para voar? Às vezes há vales, há pontos que precisam de ser atravessados. Nessa tarefa, as asas dão-nos a magia de ver de cima, de atingir os nossos sonhos, numa realidade possível. Por vezes é preciso deixar a terra e levantar voo. Cá em cima podes flutuar, acreditar e não mais parar... e é tão fácil. Uma vida como o céu, a voar...


(Foto: fim de tarde em Belém... a sunset to remember. 02/10)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O que é a velhice?



Ana conta que o seu filho pequeno - com a curiosidade de quem ouviu uma nova palavra mas ainda não entendeu o seu significado - perguntou-lhe:
- "Mamã, o que é a velhice?"
Na fracção de segundo antes da resposta, Ana fez uma verdadeira viagem ao passado. Lembrou-se dos momentos de luta, das dificuldades, das decepções. Sentiu todo o peso da idade e da responsabilidade nos seus ombros. Tornou a olhar para o filho que, sorrindo, aguardava uma resposta.
- "Olha para o meu rosto, filho", disse ela. "Isto é a velhice".
E imaginou o menino vendo as rugas e a tristeza nos seus olhos. Qual não foi a sua surpresa quando, depois de alguns instantes, o menino respondeu:
- "Mamã! Como a velhice é bonita!"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O que queremos

Dinheiro? Status? Poder? Um corpo novo, que consiga fintar a decadência? Começas um ano novo e logo te interrogas. Que queres tu afinal, se pudesses escolher. Aposto que multiplicas por mil as cem promessas que fizeste por esta altura, no ano passado, e no ano anterior a esse. Que vais conseguir demonstrar não sei o quê no emprego, que te vais empenhar a fundo, que vais melhorar, que hão-de reparar em ti. Que os teus filhos hão-de ter tudo a que têm direito, e que as publicidades te convencem que precisam. Que o progresso é para aproveitar, e portanto essas rugas vão à vida, há uma clínica da qual te falam muito bem, hás-de dar um jeito nos pneuzinhos, nos dentes, no nariz, nas sobrancelhas, ainda que já não sejas tu quem sairá de lá, mas uma outra coisa que te convenceste que querias ser. Mais viagens, jantares, sapatos novos, uma blusa que namoras há tanto. Cada ano que passa suspiras pelo futuro, planeias, apostas que o futuro será teu. A cada ano, por esta altura, esqueces-te, talvez, de recordar um pensamento pequeno, despercebido, que deixou um dia um músico que assassinaram de forma estúpida, um músico que já não te dirá nada, porque achas que já não tens nada a aprender. Que disse muito simplesmente que a vida é aquilo que nos acontece quando estamos muito ocupados a fazer planos. Não há como a idade para te colocar as coisas em perspectiva. Para perceberes que não há tempo nem futuro que te valham, se não agarrares este momento que tens entre os dedos. Eu, vocês, os nossos amigos, os nossos vizinhos, queremos afinal muito pouco. Muito pouco comparado com o que nos fazem crer que desejamos. Uma oportunidade, uma chance pequenina, de experimentarmos a maravilha de sermos de alguém, e sabermos que alguém quer ser nosso. E por momentos, nem que seja por um momento, saborear o espanto de conseguirmos esquecer-nos de nós, por um momento, que seja um pequeno momento, imaginarmos que ao nosso lado um outro coração corre à mesma velocidade serena, ansioso por chegar ao mesmo lugar, onde nos espera um mesmo destino, por um momento, um momento simples, pequeno se quiseres, que te garante estares vivo, porque alguém te deseja vivo, ao teu lado, a tocar-te ao de leve, apenas o suficiente para saberes que não estás só, que não estás só nesse momento, esse pequeno, irrepetível momento, em que o caminho nos parece suave, em que podes, por segundos, fechar os olhos e abrir os braços, seguro de que alguém te irá segurar na queda, subitamente leve numa relva fresca, os pés numa madeira lisa e limpa, num suave fio de água, tranquilo por um momento, amado por um momento, que provavelmente não se repetirá, mas que não trocarias por nada, nessa absoluta necessidade, enquanto houver um sopro de vida, apesar do medo, apesar das regras, das probabilidades, das mais-que-evidentes-certezas, esse momento, esse singelo, pequeno, inesperado momento, em que finalmente nos cicatrizam todas as feridas de uma existência aflita.

(Rodrigo Guedes Carvalho, Máxima)