segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vai. E volta.

Sai porta fora. Se não estás bem, sai. Convida um bom amigo a fazer-te companhia. Se ele não poder ir contigo, não o censures... vai na mesma. Se ele for contigo, óptimo... é tão raro encontrar uma boa companhia que nos aceite no momento em que mais precisamos. Não rebentes aí fechado nessa espécie de concha, a fingir que está tudo bem quando tudo está mal, quando as coisas não estão certas na tua vida e queres muito uma coisa. Tens esse direito... tens o dever de lutar por ti. Não te digo que vá ser fácil nem que vá ser difícil (não sei...) mas precisas tentar. Precisas de correr, de percorrer muitos caminhos na sombra, de suar, de cair, de te arranhar muito... percebes agora porque te disse para levares companhia? Não é que esse amigo vá por ti onde queres chegar, mas o saberes que alguém está contigo vai dar-te força. E vai acalmar as tuas feridas. Já pensaste que quando não estamos bem, qualquer caminho serve? Qualquer caminho é melhor do que o chão vazio que agora pisas. Podes até partir trémulo, sem certezas, podes voltar ao início, arrepender-te e voltar a querer no momento seguinte... mas deixa a razão de lado, parte e segue o que o teu coração te pede. Arrisca. Não vais perder nada... e, sabes, por muito tortuosa que a estrada te pareça antes de a percorreres, não há sentimento mais repudiante do que o vazio, a solidão, a falta de paz. Essa que agora sentes.
Vai sem medos, lança-te à estrada... Cala-te e não arranjes desculpas mesquinhas. Olha em frente e sorri por estares aí, pronto e decidido. Abraça a tua vida.
"O que importa é a viagem, percorrer caminhos. Sentir a distância. Um mapa e uma ideia, um esboço de destino. Saborear os quilómetros. Deixar-se surpreender. E levar música, muita música."... não achas que é o que importa? Miguel Torga achava, e eu também. (P.S. - Na falta de um amigo, a música pode ser uma companhia incomparável.)
Não vivas obcecado com a tua chegada. Quando menos esperares, saberás que estás no sítio certo... no momento certo saberás. Será no momento em que decidires voltar. Com tudo o que conquistaste e que agora, irremediavelmente, é teu.

sábado, 17 de outubro de 2009

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.
  
(Eugénio de Andrade)

sábado, 3 de outubro de 2009

Egoísmo: é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com quem se relaciona.

Irrita-me o egoísmo, a falta de atenção à vida do próximo, a ausência de dois ouvidos atentos, de espaço... as pessoas são egoístas, parece que não têm sensibilidade suficiente para entender o que o outro precisa. Ou se têm não o demonstram e se assim é, ainda pior. Quando lhes convém, quando dá jeito, quando querem afogar as mágoas ou partilhar uma grande conquista vem a história do "preciso de ti". Mas... e depois? Aperceber-me disso, diariamente, desilude-me... chega a fazer-me aflição... e para mim não serve. Não. Obrigada.
Um pouco mais de altruísmo... eu sou a favor, afinal combina com a única noção que eu conheço de amizade.

Altruísmo: percebida muitas vezes como sinónimo de generosidade, a palavra altruísmo foi criada em 1830 pelo filósofo francês Augusto Comte para caracterizar o conjunto das predisposições humanas (individuais e colectivas) que inclinam os seres humanos a dedicarem-se uns aos outros.