quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dar tempo (ao tempo)

Ó tempo… dá-me lá um tempo. Corres tão depressa que até me assustas. Parece que ainda ontem tinha dez anos e todas as certezas do mundo cravadas no meu peito. Ainda me lembro que queria ser enfermeira, achava eu que tinha vocação para aquilo... só porque gostava de curar as feridas da minha avó. Como se isso bastasse... Corria pela casa com os sapatos da minha mãe, enormes para mim... mas isso nem importava, sentia-me crescida. Achava que de saltos altos podia chegar onde quisesse. Adorava brincar às mães. Meu Deus! Ainda me lembro... do meu nenuco preferido... era careca, com uma roupa simples, e tinha o corpo feito em algodão... era de longe o que eu mais gostava. Caía-me nas mãos como se fosse feito para mim. Lembro-me perfeitamente da minha frustração quando de manhã, antes de ir para a escola, o deixava na cama - na minha cama - e ele não aquecia. Não percebia o porquê... Hoje já sei. Eu era apenas uma menina. Uma criança sonhadora e inocente. Como afinal, todas são.
Queria fazer um acordo contigo. Em dias como hoje, de chuva, podias passar muito rápido. Agora em todas as coisas boas, eu gostava de ter mais tempo. Eu sei que é egoísmo da minha parte, que todas as coisas têm um tempo para ser vividas e que a nossa construção enquanto seres humanos passa por todas as fases. Também sei que os momentos piores parece que duram milénios, enquanto que os bons rapidamente nos fogem e vivemos em busca de mais, sempre mais. Isso é errado, não gosto que me fujam, que duvide deles só porque não acontecem no dia seguinte. As coisas quando acontecem devem ficar registadas. Para o bem e para o mal. Deveria ser assim, pelo menos. Poupavam-se muitas angústias.
De que és feito, afinal?  Às vezes não sei responder-te, desculpa. Passamos a infância a brincar à vida de adultos, como se essa fosse uma viagem cheia de sonhos. E é, realmente. Mas de repente, cá estamos nós, na vida que tanto queríamos. Em crianças, como é claro. E nem houve tempo... aliás, houve, mas nem demos conta.
Como é bom ser criança... como é bom ser inocente e acreditar na beleza das coisas... de todas as coisas que ainda estão por viver. Vou-te pedir uma última vez que pares de correr. Passa por mim... mas devagar. E desculpa lá qualquer coisa, às vezes eu sei que também não te respeito. No fundo, só te quero porque és especial...

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